

sobre
cristiana
Às vezes coisas inesperadas acontecem na nossa vida!
Cristiana Maria da Silva Calçada, nasceu no dia 26 de março de 1979, em Vila Franca de Xira, no Ribatejo de Portugal. Foi a segunda de três filhos do casal Maria Amélia da Silva Calçada e Francisco José de almeida Calçada. Dos 4 aos 7 anos de idade viveu em Luanda, Angola com os pais e a irmã mais velha. Em 1999 viveu um processo inicial de conversão, graças à participação em encontros da Renovação Carismática organizados pelo grupo Pneumavita de Lisboa. Apesar desta graça recebida, ao ingressar na faculdade acabou por abandonar o caminho que havia começado a trilhar.
Trabalhou na área comercial, recrutamento de recursos humanos e criou uma empresa de distribuição de produtos biológicos. Regressou a Angola em 2009 por motivos profissionais. Casou em 2010 e separou-se no mesmo ano. Em seguida viveu ainda em Paris pouco mais de um ano também com finalidade laborativa. Regressou a Portugal em 2012, onde permaneceu até ao diagnóstico da enfermidade.
Cristiana gostava muito de praticar desportos como mergulho em apneia, bodyboard e artes marciais. Foi uma excelente atleta de Tae-kwon-do, chegou a vencer medalhas em Campeonatos Nacionais, mas o último combate que travou, apesar de mais doloroso, foi o mais brilhante. Não recuou diante do sofrimento. Combateu por Cristo e ao lado de Cristo, pela salvação da sua alma e pelas outras almas. Combateu o bom combate e guardou a fé!
A sua súbita partida deixou-nos desarmados mas percebemos rapidamente que não demorou a fazer sentir o seu auxilio nas ajudas que lhe temos pedido. A sua intercessão nas nossas vidas tem sido muito evidente!
Que o relato destes três anos e três meses de graças possa de alguma forma dar um novo alento a quem se encontra desanimado sob o peso da cruz! O Imaculado Coração de Maria seja sempre o vosso refúgio e a escola onde aprender a sorrir mesmo diante das dores, duvidas e dificuldades. Foi nesta escola que a Cristiana se preparou para o encontro com o seu Verdadeiro Esposo.
Para muitos de nós ela deixou-nos um exemplo de como construir as frases da nossa vida com a palavra “sim” em vez da palavra “se” (“se eu não tivesse câncer”, “se eu tivesse outro marido”, “outra esposa”, “se eu tivesse um filho diferente”...). “Sim” ao que vier e não depender de mim, “sim” ao sofrimento se for Deus que o permitiu, “sim” a um novo projeto ainda que seja totalmente diferente daquele que pretendíamos, desde que seja o projeto que Ele sonhou para nós.
O que aconteceu...
O primeiro grande susto e a primeira grande graça:
A Cristiana foi dotada de um “espirito muito livre”, de um caráter jovial, alegre e cheio de energia, disponível para ajudar sempre que lhe solicitassem auxilio. A partir da adolescência e depois de uma primeira etapa no caminho de conversão, trilhou estradas, montes e vales que marcaram um período de afastamento do Senhor da Vida. Lendo hoje mesmo, alguns dos escritos desses tempos passados (2011) partilho aqui as desilusões e confusão em que a determinada altura da sua vida se encontrava, questionando-se como saber distinguir o caminho do bem do caminho do mal e como se afastar das más influencias.
Na noite de 24 de julho de 2021, a Cristiana, inesperadamente foi hospitalizada em estado muito grave, provocado por uma intensa hemorragia. O médico avisara o seu pai de que ela se encontrava em estado gravíssimo e que ia ver o que conseguiria fazer pela sua sobrevivência.
Ficamos de fato alarmados! A minha mãe telefonou-me e pediu que rezasse pela minha irmã que lhe ligara para se despedir, sem grandes esperanças de sobrevivência. Quando entrei na capela para rezar, senti que ela estava a morrer, e saí da capela em pânico para enviar mensagens a todas as pessoas que conhecia de modo que rezassem por ela também pois eu sozinha senti-me incapaz de tal tarefa. Ao reentrar na capela, diante desse mistério da vida e da morte que se nos deparava de forma tão abrupta, pedi a Deus uma segunda oportunidade para a Cristiana e para cada um de nós. Tantas palavras que haveriam de ficar por dizer se naquela noite a sua vida chegasse ao seu término.
De fato, a graça de Deus não permitiu que ela partisse nessa noite. Dera entrada no hospital com uma hemoglobina de 2.3, sendo que o mínimo é 12. Encontrava-se literalmente em situação de pré-morte. Tanto os médicos como auxiliares achavam que não sobreviveria. Deus, porém, atendeu às preces de todos os que por ela intercederam e aos poucos ela foi recuperando após as múltiplas transfusões de sangue recebidas.



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Uma notícia desafiadora:
No hospital de Vila Franca de Xira, onde se encontrava hospitalizada, pediram autorização para ficarem com uma fotografia sua como testemunho de caso inédito nesse hospital. Diante destas evidências a Cristiana sentiu-se muito perturbada por perceber que Deus de fato a tinha agraciado muito sem ela o merecer. Três dias depois teve alta do hospital. Eu fui buscá-la ao quarto. Ao chegar encontrei-a a chorar dizendo-me que o resultado da biopsia tinha sido “câncer do colo do útero estadio IIIC”. Havia sobrevivido para enfrentar a batalha contra um câncer! Disse-lhe que se Deus não havia permitido que morresse no sábado anterior era porque lhe estava a conceder uma segunda oportunidade, só não sabíamos quanto tempo duraria essa segunda oportunidade. Devo dizer que em nenhum momento da doença a minha irmã se revoltou contra Deus, antes pelo contrário, sempre lhe foi muito agradecida.
Os primeiros dias após a saída do hospital foram muito desafiadores, dizia-me que não sabia se devia de preparar-se para a vida ou para a morte. Este foi também um período de grande graça. Um sacerdote amigo da nossa comunidade acabara de chegar a Portugal e confessou-a depois de muitos anos e administrou-lhe a unção dos enfermos. Ela estava muito dócil para abraçar uma nova etapa na sua vida agora sim em comunhão com Deus. Ela passou a participar da missa com regularidade bem como do sacramento da confissão. Foi de grande auxilio na sua vida espiritual de então as catequeses do frei Gilson. Este auxilio foi fundamental para fazer um bom exame de consciência. Vejo anotado no seu bloquinho a 22 de setembro de 2021:
1) “não vos deixeis enganar, más companhias corrompem os bons costumes” (1Cor 15,33); a primeira coisa a que vamos renunciar hoje é às amizades que não convém;
2) Salmo 118, 101: “Dos maus caminhos desvio os meus pés para poder anunciar a Sua palavra” – Desviar meus pés de discotecas, ou festas não católicas, todos os lugares não católicos;
3) Catecismo da Igreja Católica 2521, fala sobre pudor: “a pureza” – preciso de pudor: esconder aquilo que não deve ser mostrado, por exemplo o Corpo, castidade, dignidade. O pudor protege o mistério das pessoas; cada pessoa é um mistério; o pudor é modéstia. Quais as roupas a que preciso renunciar?
4) Séries e filmes a que se tem de renunciar, todas as que não tem pudor: renunciar a todas a novelas; deixar de seguir determinadas pessoas na internet, renunciar a músicas e remover as fotos que não revelam pudor;
5) Catecismo 2115-2117 Renunciar a objetos de sorte, bruxas, duendes, pirâmides incensos que não sejam litúrgicos (tudo isso desagrada a Deus);
6) Fazer um bom exame de consciência baseado também nos dez mandamentos; Não abusar da Misericórdia Divina.
Determinada a lutar:
Logo na primeira semana após a saída do hospital estava determinada a fazer a sua Consagração Total a Nossa Senhora pelo método de São Luis de Montfort. Depois de assistir aos vídeos formativos e fazer a devida preparação, consagrou-se no dia 24 de setembro dia de Nossa Senhora das Mercês numa das capelas de Nossa Senhora da Schoenstatt pelas mãos de um sacerdote do referido Movimento Apostólico.
Numa primeira etapa da doença era assaltada por maus pensamentos, medo de ir para o inferno, angústia, e dúvidas sobre como se entregar mais plenamente nos braços de Jesus. Queria entregar-se a Jesus mas tinha medo. Lamentava ter gasto 42 anos da sua vida com o que de nada serve.
Um desafio mais exigente:
O tratamento para o câncer que lhe aplicaram foi muito eficaz tendo debelado totalmente a grande ferida de 6 cm que tinha no colo do útero. Os médicos ficaram surpreendidos com a recuperação e a resposta ao tratamento. Porém, sem que os médicos esperassem, quando fez o exame de controlo em setembro de 2022, identificaram que o tumor havia metastizado e entrado no sistema linfático. Deram-lhe na altura 6 meses de vida a um ano (a médica disse isto em lágrimas segurando nas mãos da minha irmã). A consulta tinha ocorrido no dia 11 de outubro. No dia 13 de outubro ocorreu a entrega da Positio (documento relativo às virtudes heróicas) da irmã Lucia de Fátima em Roma. Decidiu-se junto com as casas da comunidade Arca de Maria e amigos e leigos pedir a sua intercessão pela minha irmã. Mais especificamente pedimos uma de duas coisas: 1) conversão e santidade durante a doença para ir para o Céu ou
2) cura milagrosa para continuar num processo de conversão e santidade nesta vida. A minha irmã dizia que não queria ir para o purgatório, queria ir diretamente para o Céu.
Para esta etapa foi de fundamental auxilio o diretor espiritual (padre Ilfreid da Obra dos Santos anjos). O primeiro colóquio foi em novembro de 2022, altura em que tinha iniciado as fortes sessões de quimioterapia. Anotou ela no seu bloco uma observação do diretor:
“Às vezes os milagres não acontecem como cura física, mas no conseguir passar as adversidades, e este momento com um sorriso e alegria é também um milagre”.
Desde então passou a trilhar um caminho de maior serenidade, mais concreto e mais sólido. Queria evangelizar e difundir a palavra de Deus, algo que começou por fazer já no dia 25 agosto 2022, em que abriu a conta de instagram de Padre Pio, para divulgar a sua espiritualidade e ensinamentos.




O primeiro sinal de uma graça maior:
No dia 13 de fevereiro (aniversário do falecimento da irmã Lúcia de Fátima), às 16h45 de Portugal a médica ligou para a minha irmã para lhe dizer que o tumor do sistema linfático tinha desaparecido e tinha um pequeno vestígio no osso. A Pet scan fora feita no dia 9 de fevereiro e a médica disse que o resultado não sairia antes de sexta feira seguinte no mínimo (seria dia 17 de fevereiro). O que é certo é que o resultado saiu no dia da irmã Lucia de Fátima e atribuímos a ela esta graça. A médica não precisava ter ligado para a minha irmã pois ela tinha consulta marcada nessa semana mas ela preferiu fazê-lo nesse mesmo dia sem saber que era o dia da pastorinha de Fátima.
Por meio da pastorinha de Fátima Deus lhe concedera mais algum tempo que acabaria por se revelar um tempo muito precioso. Por essa ocasião dizia ela que estava a melhorar o seu curriculum para ir para o Céu pois em tempos anteriores preocupara-se apenas com o curriculum para as coisas do mundo. Assim, participava de encontros de formação catequética como a formação sobre os documentos do CVII, a Consagração a São José que fez no dia 13 de maio de 2024, grupos de estudo da Teologia do Corpo, tendo colaborado no fórum Wahou, entre outros. Procurou também aprofundar o seu conhecimento na medicina de Santa Hildegarda e o benefício dos produtos naturais.
Em outubro a sua situação clinica agravou-se. Fez uma TAC e o resultado soube-o sumariamente na sexta feira seguinte: confirmado o crescimento de massas tumorais no abdômen. Algo verdadeiramente inesperado e nada comum se não numa situação já mais avançada da doença. Foi hospitalizada, no dia 19 e acabou por partir no dia 24 de outubro antes das 22h, 3 anos e três meses após a segunda oportunidade que Deus lhe dera.
O que verdadeiramente importa:
Uma das frases que mais repetia nos últimos momentos era “o valor das pequenas coisas”. Apreciava com gratidão o banho quente que a minha mãe lhe dava, pois já sem forças não o conseguia fazer sozinha, apreciava as massagens que lhe fazíamos na coluna já só entre pele e osso, apreciava as massagens nos pés e um “Sorvete de limão” que a auxiliar lhe deu no último domingo antes de partir. Agradeceu muitíssimo ter ficado de fralda no hospital pois assim não tinha tantas dores para ir à Casa de banho: “as pequenas coisas”! Quando as dores aumentavam cantava para Jesus. O canto que mais gostava era o da oração de Fátima: “Meu Deus eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam”. Disse-me numa tarde: “quando pensas que não consegues aguentar outro nível superior de dor, eis que chega uma dor mais forte ainda e então lembras-te do quanto Jesus sofreu por nós!”. Oferecia os seus sofrimentos pela salvação das almas, pelo Sínodo, pela Obra dos santos Anjos, pela Arca de Maria e pela santificação da sua família.
Diante dos fatos relatados e presenciados, e atendendo à rapidez com que o quadro clínico dela se agravou sem ninguém esperar, nem a equipa médica, acredito que pela misericórdia Divina, Deus lhe concedeu a segunda graça por meio da irmã Lucia para a poder preparar melhor para o Céu, que tanto ansiava. 3 anos e 3 meses corresponde ao número 33, a idade com que Cristo morreu e também o número da cama que lhe tinha sido atribuída neste último internamento no IPO.
Um coração agradecido:
Agradecemos todos os que ajudaram no seu crescimento para Deus e aprofundamento da doutrina da Igreja e que fez parte do plano de purificação da sua alma como o havia projetado Deus e ao qual ela tanto se esforçou por corresponder. Testemunho que não foi fácil para ela, aos 42 anos de idade deixar para trás toda uma experiência de vida e ambição muito distinta daquela que Jesus nos propõe. Acredito que deu o seu melhor e que Nossa Senhora, por meio da Consagração a preparou sabiamente para o encontro definitivo com o Seu amado filho. “Cristiana” foi o nome com que nasceu para a vida da graça e “Cristiana” foi a vida com que partiu na graça! O que é muito claro na vida da minha irmã é a “alegria”. O câncer não lhe arrancou a alegria do coração. Permitiu, isso sim, que essa “alegria”, porque tantas vezes assumiu o aspecto de “cruz”, se tornasse mais profunda e rica.

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